Neste artigo ofereceremos um novo olhar sobre a “anunciação” da umbanda: a manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas no médium Zélio de Moraes, numa sessão da Federação Espírita de Niterói, no dia 15 de Novembro de 1908. Como todo mito-fundador, a narrativa entremeia a realidade com fantasia. Mas o que interessa é o valor simbólico que o mito representa para os atuais adeptos, cuja importância se compara ao nascimento de Jesus, para os cristãos. Nesta perspectiva, proponho uma análise alternativa àquelas realizadas por Diana Brown e Emerson Giumbelli, nas quais a relevância simbólica do evento fora suplantada por questões relativas à consolidação da classe média carioca. As teorias de Pierre Bourdieu sobre o funcionamento do campo religioso me auxiliaram na tarefa de justificar o ostracismo vivido por Zélio de Moraes dentro do “movimento umbandista”: o que estava em jogo naquele momento era a busca pela legitimidade de uma religião periférica, e não quem fora o fundador da Umbanda.