Descrição:
SOARES, Ana Luiza T.
O interesse em desacreditar o movimento feminista de inícios do século XX por meio de práticas discursivas que visavam resguardar o papel que tradicionalmente cabia às mulheres, perpassou por muitos veículos de informação. Esta prática também esteve presente nas páginas do jornal O Tempo, um dos mais longevos e importantes diários que circulou na cidade do Rio Grande entre os anos de 1906 a 1960. Para a análise dos discursos difundidos por este periódico estabeleci como baliza temporal as datas entre 1919, (data em que Bertha Lutz, principal representante do feminismo no período, fundou a Liga pela Emancipação Feminina, cujo intuito primordial era a concessão do sufrágio à mulher) e 1932, ano em que foi instituído o voto feminino no país. Nesse período, o jornal O Tempo esteve sob a direção do jornalista Alípio Cadaval, fundador do jornal e ilustre personagem na historiografia oficial da cidade, preocupado em combater, especialmente, o grupo liderado por Bertha Lutz. A partir desse contexto, procuro discutir de que forma O Tempo construiu/difundiu enunciados performativos sobre as ideias feministas, afirmando posições e papéis ideais a serem seguidos não só pelas mulheres da época, mas também, pelos homens. Para tanto, parto do pressuposto de que os discursos, ao descrever as mulheres, e também os homens, definiam papéis e identidades permitidos às relações de gênero, relegando estes sujeitos à apenas uma de suas múltiplas facetas. Nesse sentido, busco referenciar a noção de discurso a partir da concepção de Foucault, na medida em que, para o autor, os discursos devem ser tratados como práticas que formam os objetos de que falam. Transpondo esta análise para a problemática de gênero, dialogo com Judith Butler, para a qual a linguagem que se refere aos corpos não faz somente uma constatação ou descrição desses corpos, mas, no instante da nomeação, constrói aquilo que nomeia.
Palavras-chave: Feminismo. Discurso. Imprensa. Performatividade.
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