O carnaval cristão
Do século VI D.C ao século XVIII d.C

O carnaval Cristão inicia o seu desenvolvimento quando a Igreja Católica oficializa o carnaval, em 590 d.C e adquire características definitivas na renascença. Termina no século XVIII quando um novo modelo de carnaval (pós-moderno) começa a se delinear.

III Centro de Excelência do Carnaval O terceiro Centro de Excelência do Carnaval fixou-se na cidade de Veneza e logo se irradiou para Nice, Paris, Binche, Bonn etc, com mascarados, fantasiados, carros alegóricos etc.

Quando a Igreja Católica surgiu foi contra as festas ditas orgiásticas e as combatem, mas não conseguem exterminá-las por que elas estavam impregnadas no inconsciente coletivo dos povos.

No século II d.C foi introduzido na Itália um rito de iniciação asiático chamado Culto de Mitra, de origem iraniana, o sacrifício de um touro para que seu sangue representasse o renascimento da humanidade. Esse culto era muito difundido. A ordem para degolar o touro partia do Deus sol Mitra, salvador de todos nós. Essa comemoração se dava no dia 25 de dezembro (no hemisfério norte) após o solstício de inverno, no renascimento do sol, isto é no Natalis Solis que significava o nascimento de Mitra, deus salvador, vencedor, invencível, nascido de um rochedo.

Do sangue do touro nasceram os animais e os vegetais, mesmo contrariando a serpente e o escorpião e simbolizavam a luta do bem contra o mau. Segundo o mito conseguimos acesso a mansão da luz eterna.

A Igreja Católica conhecendo o poder dessa crença entre os povos colocou o nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro, na intenção de fazer uma festa capaz de neutralizar as bacanais e saturnais. Segundo Junito de Souza Brandão, autor do livro Mitologia Grega : “o Natalins Dominis, o Natal de Cristo foi colocado no dia 25 de dezembro, exatamente para substituir e vencer (e o venceu para sempre) o “renascimento” do invencível mitra. Na realidade, Cristo, personagem histórico, nasceu antes da morte de Herodes, o Grande, que faleceu no ano 4 a.C., donde concluem os exegetas que o senhor nasceu entre os anos 6-7 da era cristã. O mês e o dia hão de se saber na eternidade ...” Se Cristo nasceu antes do ano 0 (zero) da Era Cristã nós já estamos no ano 2001-2011.

Em 325 d.C. a Igreja criou a primeira Assembléia de Bispos, assessorada por teólogos, para decidir sobre questões de doutrina e disciplina eclesiástica, o Concilio de Nicea (cidade de Bitima, no Lago Ascânio, Ásia Menor) onde se colocam em discussão, entre outras questões, as festas populares. Eles chegaram a conclusão que o dia 25 de dezembro não era suficiente para neutralizar as festas orgiásticas greco-romanas, proibidas, mas ainda fortes.

Em 590 d.C, o Papa Gregório I, o Grande marca em definitivo a data do carnaval no calendário eclesiástico. Determina-se a data do equinócio da primavera no hemisfério norte (ponto ou momento em que o sol corta o equador, tornando os dias iguais às noites). Ocorre em 21-22 de março. Observa-se na folhinha o primeiro domingo após o 14º dia da lua nova. Ou numa regra mais prática, o 1º domingo após a lua cheia. Se o 14º domingo da lua nova (ou primeira da lua cheia) cair no dia 21 e for sábado, o domingo 22 de março será o domingo de Páscoa. E assim por diante. O domingo de Páscoa só pode cair entre o dia 22 de março e 25 de abril.

Para marcar o carnaval observa-se os quarenta dias que Jesus passou jejuando no deserto (quaresma) e fixa no 7º domingo, chamado de qüinquagésima, a permissão para se comemorar comendo carne, antes do sacrifício da quaresma.

A esse domingo Gregório I, o Grande deu o titulo de “dominica ad carne levandas” , expressão que veio se abreviando para carne levamem, carneval e carnaval , a terça-feira “mardi grass” seria legitimamente a noite de carnaval.

O carnaval cristão, na área mediterrânea da Europa – Itália, França, Alemanha – começa mesmo quando o Papa Paulo II (1461-1471), ao observar de sua morada que a Via Lata (longa avenida que partia de seu palácio na Praça Del Papolo até a Praça Veneza) que ficava vazia e deserta o ano inteiro, resolveu organizar festas durante o carnaval – promoção de corrida de cavalos, anões e corcundas etc, tudo sob a luz de luminárias, de tocos de velas, por isso carnaval ficou conhecido como Mocoletti.

Em 1545, no Concílio de Trento, entre outros assuntos importantes, entrou em pauta a discussão do carnaval, que foi reconhecido como manifestação de rua importante, não devendo ser hostilizado pelo clero.

Hélio Diamante, em Secularização do Carnaval, Cultura, nº 172, 1980, pgs 6 e 7, diz: “Ainda após Trento a Igreja considerava o carnaval pecaminoso, apenas em círculos restritos (como a Corte francesa antes da Revolução), onde os bailes de máscaras se transformavam em bacanais, exatamente como na antiga Roma decadente e não entre o comum do povo, entregue a ingênuos folguedos, bailados, banhos de cheiro, revelando o vigoroso e sadio espírito da festa, culminando nos cortejos (desfiles) que expressavam não só o pitoresco, mas freqüentemente a critica aos costumes e aos poderosos”.

Em 1582, o Papa Gregório XIII (157201585) ao promover a reforma do calendário Juliano, transformando-o no calendário Juliano-Gregoriano, em uso até hoje, pelos povos católicos, estabeleceu, as datas de carnaval.

O carnaval na Europa foi muito forte na Renascença. Na área mediterrânea da Europa, onde o clima mais quente favorecia a festa, o mais famoso carnaval foi da Itália – principalmente de Veneza. A Alemanha levava muito a sério o seu carnaval, sério no sentido de que a festa devia ser conduzida por pessoas preparadas. O organizador oficial dos folguedos e mascaradas da corte era o escritor,poeta, conselheiro político e econômico de Weimar, autor de Fausto, Jahanann Wolfang Von Goethe. Ele, inclusive, viajou à Itália em 1788, para assistir ao carnaval romano. Escreveu a respeito um texto maravilhoso no livro Viagem à Itália. No Rio de Janeiro nunca houve preocupação nesse sentido, por isso não formamos uma “intelligentzia” capaz de interpretar o carnaval carioca.