Dom Casmurro - Machado de Assis
CAPÍTULO IV / UM DEVER AMARÍSSIMO!
José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição
monumental às idéias; não as havendo, servia a prolongar
as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior
da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças
brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos
que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as
calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de
cetim preto, com um arco de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço;
era então moda. O rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia
nele uma casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio
de calva; teria os seus cinqüenta e cinco anos. Levantou-se com o
passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado se era dos
preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo,
a premissa antes da conseqüência, a conseqüência
antes da conclusão. Um dever amaríssimo!
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